terça-feira, 28 de outubro de 2008

domingo, 26 de outubro de 2008

dadedadedade2


"a".
Parece tão simples, mas por tantas vezes foi tão complicado estar ali.
Bastou ficarmos uns meses sem, que tá todo mundo se coçando pra fazer tudo de novo.
Coisa boa de fazer, coisa boa de construir. Montar e desmontar cenário é praticamente um divã do grupo (hehehe).
Salve salve simpatia... não há quem, de opinião confessa, que não se envolva com aquelas bonequinhas, que por vezes são as gatinhas do chuck outras as barbies do sonhos ou ainda as fofoletes e emílias [e no meu caso especificamente: a olívia palito]...
Na verdade se trata da autonomia da mulher, veja só até onde nos embebedamos de Franca Rame e Dário Fo: mulheres com seus dilemas, seus parceiros, seu sexo, medos, anseios e tudo mais que todas sabem.
E pra não dizer que são idéias já muito ditas e vistas, "a" apresenta o risco da atriz em cena, com seu imaginário parceiro que todo o público consegue VER, ele praticamente se materializa...
(Desculpem-me a auto-confiança, mas ouvi tanto isso já que introduzi).
Num cenário que busca o visceral, as luzes e os figurinos mesclam nosso olhar e diante de todos estão elas, as bonequinhas e suas histórias que estamos loucas para recontar.

... também sinto essa saudadedadedade.

by Lu Holanda
http://umaatriz.blogspot.com/

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

depoimento de atriz

Atuo no “a” desde seu surgimento em 2005. O convite surgiu já no último semestre da faculdade, em meio a TCC e relatórios de estágio final. No meio dessa loucura, o que a princípio era só mais um trabalho de encenação de colegas, se tornou o trabalho mais duradouro e questionador da minha carreira.

O início, se eu tivesse que nomear, ganharia a alcunha de CAOS. Porque de fato foi um caos. A empolgação com a idéia e com o trabalho durou uns quatro ou cinco ensaios, depois passei a dividir minhas crises magistrais com a Amélia, a outra atriz que dividia o caos junto comigo. [aliás, ainda bem que tinha com quem dividir o caos – rsrsrsrsrsrsrs]. O contraponto desse caos, e o alicerce para nós foi a Luciana, que do triângulo das atrizes, era o vértice mais seguro e crente no trabalho.

Não sei explicar ao certo o que causou tanta consternação, mas lembro que o trabalho andava por uma estrada muito tênue, beirando o brega – pra mim né. E a sensação é de que tudo estava over, pesando demais pro lado do feminismo e da sensualidade, e essa mistura me causava um medo terrível. Fora essas crises de conteúdo, tinham as histerias de atriz, e o pânico do monólogo, mesmo que não fosse solar no palco a peça inteira. Não bastasse isso, tinha o tal trabalho com o interlocutor imaginário, o homem da história existia na nossa cabeça e tinha que aparecer nas ações, na ocupação espacial, nas intenções, e pra mim ainda sobrava uma cena de violência sexual pra fechar o monólogo – e o violentador era imaginário, viva o CAOS!!!!

Se bem me lembro, eu implicava com tudo, até o cenário eu cheguei a pensar que pareciam umas cangas penduradas. Na época o espetáculo tinha um formato bem diferente, e ao invés das partituras das bonecas que fazemos hoje, iniciávamos a peça com uma espécie de dança/ação corporal, desenfreada por um som da Björk, que parecia uma respiração forte. Nossa, aquilo na época me lembrava a abertura da novela Belíssima que passava na Globo!!!!

Caminhei nessa agonia por todos os ensaios restantes até a estréia, e acho que se não fosse o compromisso com os amigos/colegas, eu teria pela primeira vez desistido de um trabalho.

Dia da estréia, e o pavor na boca do estômago – pavor maior do que o habitual, diga-se de passagem. A Lu sempre com muito otimismo nos entusiasmando, e certa de que seria uma boa estréia, mas acho que nem se o mais renomado figurão do teatro me dissesse isso eu acreditaria. Feito, tocada a música, entramos em cena, e dali até o fim da peça foi uma secessão de surpresas, que culminaram nos aplausos calorosos de uma platéia que parecia encantada. E eu sem entender nada, aliás, nem eu nem a Amélia.

Mas o fato é que parecia que a fórmula toda tinha dado certo, e que os elementos misturados tinham virado um espetáculo a ser cuidado e preservado com muita dedicação. Foi só aí então que eu percebi que o caos vinha na mesma proporção das coisas novas que o “a” estava trazendo para a minha caminhada. Só então eu percebi que a aparente desconfiança, havia cedido lugar ao encantamento, e eu estava completamente apaixonada pro esta peça.

Continuar um trabalho sempre foi tarefa árdua pra gente. Difícil criar um trabalho? Sim, mas mais difícil mantê-lo, renová-lo, permanecê-lo, mas sempre embebido de frescor e desafios. Mas não é que até nisso o “a” foi tranqüilo?! Acho que a fase do CAOS tinha definitivamente passado, e o trabalho se fortaleceu tanto em meio a esse início difícil, que mesmo mediante a possibilidades de mudanças no elenco – inclusive a minha, que estava de partida para outra cidade em breve – e as diversas crises e reflexões que isso gerou, o espetáculo fincou o pé no palco e se firmou de vez.

As mudanças vieram, cenas foram criadas, retrabalhadas, os monólogos foram se solidificando, e o trabalho reestreou, ainda fazendo parte da disciplina de encenação, só que desta vez a II. Mais uma vez a certeza de que estávamos num bom caminho, e acho que pela primeira vez participei de um espetáculo que trazia a questão da arte alternativa, do conteúdo estético sem deixar de ser popular, e falar a língua de muitos, independente os níveis intelectuais, sociais e culturais.

Agora sim, saíamos da universidade. Segundo semestre de 2006 e o medo de não conseguir seguir adiante, sem o respaldo – que mesmo ínfimo é fundamental numa cidade como Florianópolis – da Universidade. Problemas de verbas, falta de espaço e falta de horários comuns para ensaios foram se colocando como obstáculos em nossos caminhos. Ao mesmo tempo a resposta dos espectadores e a repercussão do trabalho tanto nos outros quanto em nós mesmos, fazia com que os obstáculos fossem sendo ultrapassados.

Daí segue uma história longa de eternos desafios,que quem trabalha com teatro sabe bem, ainda mais longe dos grandes centros culturais do país. E essa história longa é o tempero do amadurecimento do espetáculo e de cada artista envolvido nele. Particularmente tenho a dizer que fazer este trabalho me motiva a todo o instante novas atitudes, na cena e na vida. No caso das atrizes, acho que o desafio é duplo, porque além de atrizes somos mulheres, e estamos inseridas nos universos artísticos e femininos, dialogando com eles o tempo todo. A triz que eu era em 2005 certamente foi modificada pelo trabalho, a mulher que eu era idem, ao mesmo tempo em que a mulher e aatriz que venho me tornando a cada dia, vem transformando a mulher do palco, a personagem que pena o medo de engravidar e acaba sendo violentada pelo próprio parceiro, e enfim engravida...se lá em 2005 a mulher era mais frágil e vítima, talvez agora em 2008 ela esteja mais segura e ativa na sua parcela de culpa pela falha no relacionamento, e isso tudo faz do “a” uma fonte insaciável de inspiração e motivação.


*texto escrito há um tempo atrás, e postado agora, não sei porquê...


Marina Monteiro